É preciso ficar muito atento a inconfessáveis manobras em curso no Congresso e no Judiciário. Nos bastidores tem gente muito interessada em transformar as revelações da operação Lava-Jato em pizza.
Centenas de políticos e parlamentares estão envolvidos em falcatruas nas campanhas eleitorais e nos desvios de verbas públicas no governo e nas empresas estatais. Se nada for feito, o pós-impeachment promete ser devastador para algumas de suas excelências. Não é por outro motivo que o projeto que limita a ação de juízes, procuradores e da Polícia Federal foi desengavetado.
Exageros foram e podem sempre ser cometidos por essas autoridades. Mas para isso já existe legislação destinada a coibir e punir os excessos.
Em outra frente, em sentido exatamente oposto, tramita um projeto anticorrupção enviado pelo Ministério Público ao Congresso. Nele, há também certas extravagâncias demasiadas, como bem ponderou o Estadão de hoje, em seu principal editorial. Veja o link ao final.
Ninguém fala abertamente no assunto, claro, mas, por baixo do pano, articula-se desvirtuar essa proposta, por exemplo, descriminalizando e diferenciando as doações de empresas via caixa 2 de propina explícita. Como todo mundo faz contabilidade paralela, dizem os interessados, seria como uma conceder uma anistia ampla, geral e irrestrita para esses pequenos, inocentes, quase pueris malfeitos por parte de empresários, que só tinham a nobre intenção de ajudar “campanheiros”.
Dessa forma, não apenas boa parte dos petistas, atolados até o pescoço na Lava-Jato, seriam beneficiados. Já foram feitas delações, ainda a serem comprovadas, é importante frisar, praticamente contra lideranças de todos os partidos. Do PMDB de Temer, Renan, Sarney, Jucá, Padilha e Cunha, ao PSDB de Serra, Aécio e Alckmin; do PCdoB de Jandira Feghali, passando pelo Centrão, pelo PSB do falecido Eduardo Campos e chegando a manchar até mesmo a áurea de pureza do Rede de Marina Silva.
Como diz o título de um post que publiquei aqui em 17 de junho, a crise política faz lembrar o jogo do resta um. Alguns dias depois, a PF aproveitou essa mesma imagem para batizar uma de suas últimas operações. A questão é, quem vai sobrar intacto até 2018? Talvez ninguém. Ou quem sabe, pelo que se vê nos últimos dias nos subterrâneos do Parlamento, pode-se dar um jeitinho para que todos sobrevivam.
Já no TSE, na calada da noite, trama-se pela extinção ou retirada das quatro ações que pedem a cassação da chapa Dilma/Temer por irregularidades na campanha de 2014. O presidente interino Michel Temer chegou a dizer em entrevista nas páginas Amarelas de Veja que, a seu ver, se o impeachment de Dilma for mesmo aprovado, esses processos deveriam ser arquivados, porque “perderiam o objeto”. A tese de sua defesa é que PMDB tinha uma contabilidade separada do PT. Há controvérsias.
Segundo delatores, os pedidos de propina vinham de ambos os lados. Por vezes tudo junto, num mesmo pacote. O empreiteiro Marcelo Odebrecht, por exemplo, teria revelado à força-tarefa de Curitiba que a própria presidente Dilma ordenou o pagamento de um extra de R$ 12 milhões para o caixa 2 de sua campanha. Metade deveria ser entregue ao marqueteiro João Santana e o restante ao PMDB de Michel Temer. Pouca gente prestou atenção a esse pequeno detalhe final. A informação foi capa da IstoÉ que chegou às bancas em 4 de junho. Se for verdade, Odebrecht terá de provar o que disse. É uma acusação gravíssima, que poderia levar à cassação de Michel Temer (caso venha a assumir definitivamente a presidência), com a consequente convocação de novas eleições.
As ações em curso no TSE são de autoria do PSDB. E não é que agora, que passaram a fazer parte do governo, alguns tucanos estrelados estariam pensando com seus botões se seria possível e viável retirar a queixa?
Esta semana, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o relator do impeachment, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), reagiu contra a possibilidade dessa manobra. O UOL deu destaque para esse seu posicionamento.
É ver para crer…
Leia aqui o editorial de hoje do Estadão.
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