Depois de desembarcar ontem em Brasília, hoje de manhã, no relatório de Análise de Imprensa, que envio diariamente aos meus clientes, comentei o que aconteceu no Senado e suas repercussões nos jornais de hoje. Aproveito para, excepcionamente, compartilhar o texto com vocês, por considerar que é um bom resumo dos acontecimentos históricos destes dias. A Normandia é aqui.
Hoje é o Dia D, de Dilma. Daqui a pouco começa a sessão do julgamento final de impeachment, que deve ser uma das mais longas da história, podendo entrar pela madrugada. Ainda não se sabe se a votação ocorrerá imediatamente após os discursos dos senadores, ou se haverá um intervalo para descanso, o que levaria a decisão para a manhã de quarta-feira.
Ontem, a presidente afastada, Dilma Rousseff, fez seu pronunciamento de defesa. Não houve improvisos nem surpresas. Foi lido um texto escrito pelo experiente jornalista e redator do governo Dilma, Mário Marona (ex-TV Globo em Brasília), informa Maria Cristina Fernandes, no Valor. Excelente análise. Recomendo sua leitura, bem como a de Ribamar Oliveira, bem ao lado, na página 8 do jornal econômico.
Num discurso mais político do que técnico, em apenas um momento Dilma chegou a se emocionar. A avaliação é de que a fala não conseguiu conquistar votos a seu favor. Faltou-lhe eloquência, mas foi atingido o principal objetivo, de deixar um documento para a história, comparável à carta de Getúlio (Folha, pág. A11). Se não se saiu lá tão bem, por outro lado não decepcionou. Em seguida, Dilma passou a responder aos questionamentos dos senadores. No início estava um tanto prolixa e confusa, fez algumas trocas de dados, conceitos e informações. À tarde, depois de um almoço no gabinete da presidência do Senado, a tensão diminuiu e ela passou a se expressar melhor. Explicou com mais clareza seus pontos de vista e deu todos os recados que pretendia. Sempre com certo ar altivo, que beira a arrogância, como é do seu estilo.
O pronunciamento e o dia no Congresso é o principal assunto dos jornais de hoje. Na Folha, recomendo a leitura das colunas de Bernardo Mello Franco (“Dilma escolheu cair de pé”, pág. A2) e de Mário Sérgio Conti (“Lastro demais para pouca vela”, pág. A9), na qual há interessantes comparações com o ocaso de Pedro II. Na pág. A11, outra boa análise sobre o discurso, de autoria de Leandro Colon (“Previsível, fala de Dilma não muda impeachment”). A conferir. Em o Globo, texto de José Casado avalia o futuro do PT pós-impeachment (pág. 10).
Folha e Estadão publicam um levantamento do placar atual para a votação: 52 votos a favor (são necessários 54 para o afastamento definitivo). Os números de senadores contrários, indecisos e que não responderam diferem. Já em O Globo, os votos favoráveis seriam 53.
A Coluna do Estadão, de Marcelo Moraes e Andreza Matais, e o Painel da Folha, de Natuza Nery, trazem notas sobre as intensas negociações nos bastidores para a conquista/manutenção de votos. Ontem o ex-presidente Lula deixou as galerias no início da tarde para voltar ao corpo-a-corpo com senadores “indecisos”, principalmente da região Nordeste, principal reduto do PT. Atento ao movimento do petista, o Planalto reagiu. O senador Roberto Rocha (PSB-MA), por exemplo, será contemplado com uma diretoria do Banco do Nordeste por sua lealdade (Painel).
O que mais se ouviu ontem no café do Senado é que os cinco votos que faltariam para barrar o impeachment teriam de vir em bloco. A esta altura, ninguém quer se expor sozinho e se indispor com um governo interino que está prestes a se tornar efetivo pelos próximos dois anos. O discurso e o debate de Dilma com os senadores poderiam ter ajudado mais, não fossem tão tardios. A falta de diálogo político, a corrupção e o naufrágio na economia deverão selar o seu destino. Amanhã, finalmente, todo saberemos qual será.
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