A crise política e o jogo do resta um

  • Por:Ibsen Costa Manso
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Apesar de tudo e da bombástica divulgação da delação premiada de Sérgio Machado, o clima que encontrei no Congresso na última quarta-feira foi de aparente tranquilidade. A crise, no entanto, é gravíssima, inédita na história e ameaça implodir por completo o sistema político brasileiro, além de poder mandar para a cadeia algumas das mais importantes lideranças dos principais partidos.

 

Ontem, fiz uma conferência telefônica sobre o cenário político para clientes de mais de 60 instituições financeiras, abordando os últimos acontecimentos e seus possíveis desdobramentos.

 

Um breve resumo do que falei e do que ocorreu esta semana.

 

A delação de Sérgio Machado caiu como uma bomba em Brasília, por ter sido divulgada oficialmente pelo STF e envolver 25 políticos de 7 partidos, entre eles caciques tucanos, do PMDB, do PT, do DEM, além do presidente interino Michel Temer.

 

Temer reagiu com veemência, em um pronunciamento no Planalto, em razão da enorme repercussão da divulgação. A fala em rede nacional que estava programada para hoje foi cancelada.

 

Não foi a primeira vez que o presidente foi citado por delatores. Em negociações para delação premiada, revelou a IstoÉ , Marcelo Odebrecht afirmou que, dos R$ 12 milhões que Dilma teria mandado pagar como caixa 2, R$ 6 milhões seriam para João Santana e a outra metade destinada à campanha de Temer; segundo a Folha, Léo Pinheiro disse que entregou R$ 5 milhões para Temer, em troca da concessão do aeroporto de Guarulhos à OAS . Portanto, acusações bem mais graves, mas que passaram praticamente despercebidas pela própria imprensa, com pouco ou nenhuma ressonância na opinião pública.

 

A questão fundamental é: fazer delação é uma coisa, provar é outra.

 

Os registros de entrada na Base Aérea em 2012, por exemplo, onde teria ocorrido o encontro de Temer com Sérgio Machado para acertar a doação para a campanha de Gabriel Chalita, foram apagados no ano passado, informou a Coluna do Estadão de hoje.

 

Partidos de oposição já falam em pedir o impeachment de Temer e investigação na Procuradoria Geral da República. Pura cena e perda de tempo. Vejam o que diz a Constituição:

 Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

(…)

¶4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

 

Os fatos narrados, se verdadeiros, ocorreram antes de Temer assumir a presidência.

 

Mesmo com as novas denúncias, a base aliada ao governo permanece unida e aprovando medidas por ampla maioria. Ou seja, pelo menos por enquanto a governabilidade segue aparentemente inabalada.

 

Nessas horas, o instinto de autopreservação fala mais alto.

 

O espírito de corpo no Congresso ficou ainda mais fortalecido depois dos pedidos de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá, Eduardo Cunha e José Sarney.

 

Na semana que vem, Renan Calheiros pode aceitar um pedido de impeachment contra o procurador-geral, Rodrigo Janot. A conferir.

 

Eliseu Padilha, especialista em planilhas sobre votações, garante que há entre 58 e 61 votos de senadores a favor do impeachment de Dilma. Há controvérsias. Pelo menos 11 parlamentares se dizem indecisos. Na prática, a disputa se dá em torno de 5 votos., apenas, numa votação muito mais apertada do que a do impeachment de Fernando Collor.

 

Ainda falta muito tempo para a votação, prevista para agosto. Até lá, muita coisa ainda pode acontecer. Seja favorável ou contra governo; ou para a oposição de plantão.

 

Ao que se sabe no Congresso, Eduardo Cunha está com os dias contados. Ele já estaria estudando fazer um acordo de delação premiada. No domingo, a Coluna do Estadão informou que o presidente afastado da Câmara ameaça levar junto com ele para o cadafalso 150 deputados, 7 senadores e 1 ministro. Pode ser apenas blefe. Se não for, a casa cai.

 

Esta semana sobrou até para Marina Silva, que teria recebido doação ilegal de Léo Pinheiro na campanha de 2014. A história está muito mal contada, mas uma contribuição legal da OAS para o PV do Rio de Janeiro já foi comprovada. Para uma candidata que dizia não aceitar doações de setores como tabaco, bebidas, armas, etc., aparecer ligada a uma empreiteira envolvida até o pescoço na Lava-Lato é, no mínimo, pouco edificante. O estrago político ficou claro.

 

Por todas essas, e por muitas outras, continuo acreditando que a crise só vai começar perder força a partir de 2019, dependendo de quem for eleito.

 

Do jeito que caminha, a crise política faz lembrar um jogo de resta um.

 

Com a demolição em curso de lideranças e partidos tradicionais, quem poderá sair vitorioso das urnas?  Um novo salvador da Pátria?

 

Para resolver mesmo, só uma ampla reforma política. Desde que seja bem feita, obviamente.

 

Ao contrário do que disse Tiririca, por aqui a situação sempre pode ficar pior.

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Comentários

Uma resposta para “A crise política e o jogo do resta um”

  1. Jarbas gibrail

    Passei para deixar registrado o prazer de lhe conhecer pessoalmente. Jarbas

    18 de junho de 2016 - 18:02 #

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