A vergonha nacional tem padrão internacional

  • Por:Ibsen Costa Manso
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A sessão político-folclórica na Câmara para o pedido de impeachment da Dilma Rousseff ganhou o mundo, em manchetes pouco edificantes na imprensa internacional.

Pouco se falou por aqui das acusações que pesam contra a presidente. Muito se aludiu à família, a Deus e ao diabo na terra do sol, à guerra contra a corrupção, à Pátria. Uma deputada ganhou um minuto de fama ao se ufanar da probidade de seu marido prefeito, preso na manhã seguinte por desvios na administração de Montes Claros (MG).

Outro deputado homenageou um famigerado torturador dos tempos da ditadura militar. Corre o risco de ser cassado.

Dos deputados votantes, mais de uma centena está sob investigação na operação Lava-Jato, a começar pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha, peça fundamental na aprovação do impeachment.

Certa vez um correligionário disse ao saudoso Ulysses Guimarães: “Dr. Ulysses, esta legislatura está horrorosa”. Ao que o velho sábio respondeu: “então aguarde próxima; vai ser muito pior”.

No entanto, é o que se tem para o momento no planalto de Pindorama.

O baixo nível da Câmara Federal não invalida a legitimidade da decisão tomada. Da mesma forma, há de se respeitar a instituição da Presidência da República. Os ocupantes desses cargos foram eleitos democraticamente, pelo voto popular. Até outro dia, essa mesma Câmara era muy aliada e útil aos interesses do Planalto. Hoje é algoz.

Queiramos ou não, essas instituições nos representam, sim. São o fruto e espelho do nosso povo.

A única forma de melhorar essa representação no futuro, se é que isso é possível, é investir em educação, conscientização política, combate à impunidade, entre outras coisas que mitiguem essas nossas mazelas ao longo das próximas décadas.

Enquanto isso, viramos piada pronta lá fora, em programas humorísticos que retratam muito bem a republiqueta de bananas em que nos transformamos.

Para completar, esta semana um evento vai ampliar ainda mais esse lamentável cenário burlesco. A presidente Dilma, ainda em pleno exercício do poder, decidiu ir aos Estados Unidos, a pretexto de participar da cerimônia de assinatura do Pacto de Paris, na ONU. Na verdade, trata-se de uma iniciativa com fins políticos, peventualkmenteara tentar sensibilizar e mobilizar a opinião pública mundial contra o que o atual governo chama de “golpe em curso no Brasil”. O vice, Michel Temer, chamado de golpista-mor  por Dilma, assumiu interinamente o governo. Em breve deverá ser o titular, enquanto eventualmente durar o seu mandato. Temer é outro investigado na Lava-Jato e pode também ter o mandado cassado no TSE, por irregularidades na campanha petista de 2014. A situação é surreal.

O fato inegável é que a presidente amarga hoje uma baixíssima popularidade. Menos de 10% consideram seu governo ótimo ou bom. Depois da decisão na Câmara, ela está prestes a ser afastada do cargo pelo Senado por até 180 dias, até que seja julgada por suposto crime de responsabilidade, em razão das pedaladas fiscais e da assinatura de decretos de crédito suplementar, sem a autorização do Congresso. É realmente muito pouco para se afastar uma presidente, em comparação a tudo o que surgiu depois do pedido de impeachment.

Ou seja, apesar de, do ponto de vista legal e institucional, Dilma ainda ser formalmente presidente da República, na prática ela não deveria mais representar o País. Para que submeter a si mesma e a todos nós a mais esse vexame?

Em 1992, Fernando Collor foi afastado do cargo 48 horas depois da decisão da Câmara. Hoje, pelo andar da carruagem no Senado, Dilma ainda terá voz e vez no Planalto por mais algumas semanas.

Em resumo, muita vergonha ainda vem por aí. Lamentável.

 

Atualização : Após uma enxurrada de críticas, aparentemente a presidente Dilma ouviu a voz da razão. No discurso na ONU, fez apenas rápida uma menção à crise política no Brasil e não falou em golpe; e sim em democracia. Menos mal.

“Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade.”

Veja a íntegra em http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-cerimonia-de-assinatura-do-acordo-de-paris-nova-iorque-eua .

 

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Comentários

2 Respostas para “A vergonha nacional tem padrão internacional”

  1. Vivian Rose de Freitas

    Vergonha, vergonha, desânimo, descrença. Será que um dia vamos ver um Brasil melhor? Em minha ignorância não vejo saída, não vejo futuro, assim como vc mesmo disse, sem educação de qualidade,e tantas outras providências que teria que mudar, o Brasil acredito tem que ser redescoberto,começar. De novo. Tudo o que estamos assistindo, é o reflexo de um país, sem cultura, sem conhecimento mínimo do certo e errado, um povo que se vende por esmola oferecida pelo governo!! Não vejo muita saída, o que vai ser de nós? Baci Ibsen.

    21 de abril de 2016 - 21:59 #
  2. Pedro

    Ibsen, esqueceu de comentar o Deputado Guanaco. Que dispara cusparadas quando fica infeliz.

    22 de abril de 2016 - 16:45 #

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