Da série “Perguntar Não Ofende”: Lula ainda vai virar ministro? Para quê?

  • Por:Ibsen Costa Manso
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O STF confirmou para amanhã o julgamento que vai decidir se Lula pode, ou não, ainda virar ministro-chefe da Casa Civil.

Ontem, em entrevista coletiva à imprensa, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff comentou o assunto:

Então, eu queria te dizer o seguinte: primeiro, o presidente Lula, de fato, tem me ajudado muito nesse processo. Nós esperamos que seja, nessa semana, autorizada a vinda dele para a chefia da Casa Civil da Presidência da República. E a gente espera, também, que isso ocorra ainda esta semana; certamente ele virá. A minha relação com o presidente Lula é a mesma de sempre. Nós somos companheiros, e companheiros especiais, porque, ao longo dos últimos anos, nós trabalhamos juntos durante seis, sete anos, diuturnamente. E também, agora, voltamos a trabalhar juntos. Não é tão diuturnamente porque ele ainda não é ministro-chefe da Casa Civil, mas eu espero que ele possa vir a dar uma grande contribuição.”

A fala da presidente aparenta certo distanciamento da realidade. Mesmo que o Supremo considere legal a posse de Lula no ministério, o Senado deve decidir, no próximo dia 11 de maio, sobre a admissibilidade do pedido de impeachment aprovado na Câmara no último domingo. A aprovação, e o consequente afastamento de Dilma do governo por até 180 dias, é dada como certa.

Assim que assumir a presidência, é provável que Michel Temer promova uma reforma ministerial completa, demitindo todos os ministros (sem falar nas milhares de outras demissões que devem ocorrem em todas as esferas da administração estatal).

Sendo assim, qual a razão para Dilma insistir na nomeação extemporânea de Lula?

Salta à vista que a questão é meramente política e não administrativa. Em que pese a Casa-Civil ser vital na condução do dia-a-dia na Esplanada dos Ministérios.

A fama de “gerentona” de Dilma foi conquistada justamente no tempo em ela ocupava esse cargo no governo Lula, entre 21 de junho de 2005 e 30 de março de 2010, quando se desincompatibilizou para disputar a presidência da República. Foi substituída por Erenice Guerra. O que se seguiu é o que se sabe.

Até aqui, em seus dois governos, não houve a necessária estabilidade na condução da pasta. Em pouco mais de cinco anos de gestão, passaram por ela Antonio Palocci, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner. Agora, a nomeação de Lula está sub judice.

Ao sacramentar Lula como ministro, Dilma, ao que parece, quer apenas transformá-lo em uma espécie de cavalo-de-batalha. Tentar demonstrar que continua com plenos poderes e que o governo segue em frente com absoluta normalidade. Além de, provavelmente muito em breve, poder causar enorme constrangimento a Michel Temer, que terá de demitir um ex-presidente da República, vitimizando-o mais uma vez.

Certamente o ato renderá manchetes, até mesmo internacionais. Cria-se então, dessa forma, mais um fato político na estratégia de tentar fazer parecer aos olhos do mundo que tudo não passa de um golpe disfarçado; de mera perseguição política a “uma gente inocente, cujo único pecado foi defender os mais necessitados”.

Não é possível antecipar qual será a decisão de amanhã no STF. De qualquer forma, pelo que tudo indica, Lula, mesmo que venha a se tornar ministro, deve perder o foro privilegiado no início de maio, voltando a ser investigado (e julgado) pela jurisdição federal de primeira instância de Curitiba, comandada pelo juiz Sérgio Moro. O mesmo acontecerá com outros ministros que estão envolvidos em investigações no âmbito da operação Lava-Jato.

Os cães ladram e a caravana passa. O antigo provérbio árabe é universal ― ou, seja, vale para todo mundo.

 

Atualização: O julgamento do caso foi adiado. Vejam em http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/04/20/stf-adia-julgamento-sobre-nomeacao-de-lula-como-ministro-da-casa-civil.htm

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