“A carta constrange ministros peemedebistas que decidiram permanecer em seus cargos após a demissão de Eliseu Padilha da Aviação Civil.”
O episódio da carta enviada pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), está recheado de significado político. Em suma:
1) propositalmente, o recado foi dado por escrito, como que “um documento a entrar para a história”, para não dar espaço ao diz-que-me-disse que vinha ocorrendo nos últimos dias, na divulgação das conversas pretensamente havidas entre a presidente e o vice a respeito do impeachment;
2) explicita o rompimento pessoal e de seu grupo (que tem à frente quatro mosqueteiros, a saber, Eliseu Padilha, Geddel Vieira, Romero Jucá e Moreira Franco) com Dilma e o governo do PT;
3) tem por objetivo demonstrar que não havia outro caminho, dado o isolamento, o papel figurativo e a desconfiança que reinaram em relação a ele e seu partido desde o primeiro mandato;
4) coloca-o no papel de vítima desse processo, contrapondo-se à estratégia de setores governistas de impor a ele a pecha de vilão e conspirador dissimulado;
5) traça um perfil de estadista, que dialoga com a sociedade e até mesmo com a oposição, demonstrando ciência de seus deveres institucionais como vice, capacidade e preparo para assumir a presidência caso Dilma venha a ser abatida pelo impeachment.
O que é preciso observar nos próximos dias é não apenas que efeito o petardo provocará no governo (e se Dilma reagirá politicamente ou com o fígado, como costuma fazer), mas também, e principalmente, no próprio PMDB.
A carta constrange ministros peemedebistas que decidiram permanecer em seus cargos após a demissão de Eliseu Padilha da Aviação Civil.
Em outra frente, será a oportunidade de verificar a real força do grupo adversário de Temer no partido. Por exemplo, a do atual líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, e do governador Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB do Rio de Janeiro.
Picciani tem papel central na comissão que vai avaliar e elaborar parecer sobre o pedido de impeachment de Dilma, que posteriormente deverá ser votado pelo plenário da Câmara. O PMDB tem 67, dos cerca de 250 deputados considerados da base aliada ao governo na Casa.
Mais uma vez deverá ser o fiel (ou infiel) da balança. A conferir.
I.C.M
P.S. – a fotografia que ilustra esta nota é de autoria do premiadíssimo fotógrafo Wilton Junior/AE. O flagrante, original e simbólico, foi feito durante a cerimônia de entrega de espadins a cadetes na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), em agosto de 2011. Os direitos desta publicação foram devidamente pagos. Pirataria é crime!
(Publicado originalmente no LinkedIn)
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