Completa-se um ano da eleição da Dilma Rousseff para seu segundo mandato. A cada dia, ao abrir os jornais pela manhã, tenho a impressão que o piloto sumiu. Os números da economia não param de piorar. Desemprego em alta, inflação descontrolada, arrecadação em queda, PIB abaixo de zero e a previsão de superávit nas contas do governo tornou-se um déficit que pode ser “de R$ 50 bilhões a mais de R$ 100 bilhões (?!)”, se forem contabilizadas as pedaladas fiscais. O Brasil perdeu o investment grade e o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou as maquiagens do Planalto, em decisão histórica.
No Congresso, onde teoricamente a situação teria ampla maioria para aprovar as reformas e ajustes necessários para recolocar o País nos trilhos após o descarrilamento, a base aliada, e alguns de seus principais líderes, tornaram-se adversários mais eficientes e ameaçadores do que todos os partidos de oposição juntos. Com o racha, a rejeição das contas públicas, além das inúmeras denúncias e escândalos de corrupção, o governo vê-se hoje forçado, cotidianamente, a fazer exercícios de aritmética e estatística para tentar segurar a onda do impeachment e sufocar o grito que vem das ruas.
Há falta de lideranças fortes e respeitadas, em todos os setores, que poderiam, se tivessem juízo, nos levar a uma solução para sairmos dessa crise político-econômica. Esse assunto já foi abordado neste espaço em artigo anterior. Como também já tratamos com maior profundidade da questão do impeachment.
Por tudo isso, a impressão que se tem é que o governo Dilma Rousseff perdeu completamente as condições de governabilidade. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que conhece bem as agruras da Presidência (acaba de lançar um livro com os diários gravados de seus dois primeiros anos de mandato), chegou a propor formalmente a renúncia da presidente. Porque, até aqui, o que se vê são medidas meramente paliativas, aparentemente improvisadas, que não resolvem as principais causas do problema: o inchaço do Estado, o desperdício, a completa perda do poder de execução, que vai da paralisação dos investimentos e realização de obras de infraestrutura, à concretização das políticas públicas nas áreas de saúde, educação, moradia, etc. E vai ter Olimpíada!
Aumento e criação de impostos, a volta da CPMF, repatriação de remessas ilegais de recursos, tenta-se de tudo para tentar trazer o orçamento para mais perto do azul. Vai demorar. Juros recordes, câmbio instável ― e a inflação resiste bravamente a voltar para o centro da meta. Alguns economistas e a maioria dos empresários fazem um diagnóstico de que estão dando veneno para tentar curar o paciente que sofre de recessão cancerosa.
Faltam soluções efetivas, falta rumo. Ou não! Seguimos celeremente ladeira abaixo, sem freio, em direção ao precipício. Com cenas explicitas de direção perigosa, a la Encurralado, de Steven Spielberg (Duel, 1971). A pista é escorregadia, o governo derrapa, trafega pela contramão, aos trancos e solavancos. As barbeiragens na via política dificultam ainda mais a condução para o fim do túnel.
Para completar, esse descontrole não se restringe apenas ao governo central. Quase todos os Estados e municípios se encontram em situação pré-falimentar. O Rio Grande do Sul, de José Ivo Sartori (PMDB), há meses atrasa e parcela o pagamento do funcionalismo público. Já mandou avisar que não há recursos para pagar o 13.° salário. São Paulo, o Estado mais rico da federação, governado há décadas pelo PSDB, cortou investimentos até mesmo em obras que poderiam ajudar a minimizar a mais grave crise hídrica da história. A solução recém-anunciada pelo governador Geraldo Alckmin não foi outra, senão a mesma fórmula adotada pelo governo do PT, entre tantos outros: aumentar impostos. A última mágica do tucano foi adiar para o ano que vem a devolução para os contribuintes dos créditos do programa da Nota Fiscal Paulista.
E no ano que vem tem eleição! Não é a toa que a última pesquisa do Ibope mostrou expressiva rejeição a todos os políticos e partidos tradicionais. Nesses momentos, o maior risco é a opção por salvadores da pátria, aventureiros, candidatos outsiders. É sempre assim. Quando a gente acha que a situação está péssima, descobrimos que ainda pode piorar muito.
A crise econômica ainda não chegou ao fundo do poço do pré-sal. Dias piores certamente virão. Não se trata de pessimismo (o que parece, na verdade, é realismo fantástico), mas da certeza de que a nossa única saída é política. Que os homens de bem, responsáveis por todos nós, deixem suas diferenças de lado, sentem-se à mesa das negociações e nos conduzam para um processo de “concertação” nacional.
Esta semana, em palestra que fiz para fundos de investimento norte-americanos, me perguntaram para onde caminha o Brasil? Fui sincero. Não tenho a mínima ideia. Ninguém tem. Pode ser à direita ou à esquerda; em frente ou para trás, para baixo ou para cima. Seria muito bom que tivéssemos também a consciência de que a navegabilidade desta belonave abalroada não depende apenas do timoneiro(a), mas sim de todos nós.
O meu saudoso amigo Joelmir Beting, mestre em parábolas que explicavam para o cidadão comum as nossas mazelas na economia e na política, costumava dizer que o Brasil não ia para o buraco, porque era maior do que ele. É, Jô, bons tempos aqueles… Homens de bom senso como você fazem muita falta nestes dias, em que o País encolhe e o buraco só faz crescer.
I.C.M.
(Publicado originalmente no LinkedIn)
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